Cultura Banto: cosmologia e corporeidade

Dia 17 de Agosto a Rede Africanidades está promovendo uma mesa de debate sobre a “Cultura Bantu, Cosmologia e Corporeidade”.

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Cutura Bantu: Cosmologia e  Corporeidade

Sobre o convidado são esses os dados:

  • Dr. Prof. Kenneth Dossar (Temple university Philadelfia) Pensylvania
  • Cinezio Feliciano ( mestre Cobra Mansa). FICA – Fundação Internacional de Capoeira Angola. Idealizador do kilombo Tenonde. Doutorando do Programa Doutorado em Difusão do Conhecimento.
  • Eduardo Oliveira. Coordenador da linha de pesquisa Conhecimento e Cultura/ DMMDC. FACED/UFBA. Líder do grupo de pesquisa Rede Africanidades.

Roda de Conversa com Eric Morton & Ialorixá Adeife Poole Omotade de Oxun

Foi no dia 14 de julho que se deu o encontro entre Eric Morton, o mestre da música do povo TABOM (Gana, África) com a Ialorixá Adeife Poole Omotade de Oxun, sacerdotisa do IFÁ, afro-americana iniciada na Nigéria e em Cuba nos mistérios dos voodoos e orixás.

Promovida pela Rede Africanidades e o Kilombo Tenondé, tal encontro se deu lá na Faculdade de Educação da Ufba (Salvador, BA).

 

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Caminhos de Kalunga, encontros “venturosos” através de tramas nas redes do destino, nos levando a revisitar caminhos ancestrais, entre cruzes e descruzes do grande mar.

Assim, o chefe musical de Gana se encontra com a mãe de santo americana nas encruzilhadas dessa rede, entre as rotas dos navios negreiros, onde um emaranhado de línguas se cruzaram e abriram portas de comunicação entre tribos remotas, sempre amparadas pelas forças dos espíritos dos ancestrais – os EGUNGUN.

Em uma entrevista feita com Makota Valdina para o banco de Teatro Olodum compôs a peça “Bença” dirigida por Marcos Meirelles, ela fala sobre os ancestrais

“Os ancestrais vieram antes porque a natureza veio antes”. O Tempo é o Vento e Vento é Tempo” …  ” O Tempo ancestral é o Tempo de hoje também.”

Eric é o primeiro descendente dos afro.brasileiros TABOM que volta vivo para o Brasil. Digo Vivo porque os seus ancestrais mortos já estão voltando há décadas para cá, através de seus rituais fúnebres. Digo Afro.brasileiro, porque ele descende de ancestrais que nasceram ou viveram no Brasil e voltaram para a África após a Revolta dos Malês, que aconteceu em 1835 em Salvador.

Tal Revolta foi articulada por líderes e combatentes nagôs (yorubás) islamizados, que buscavam instaurar radicalmente a libertação de escravizados africanos que fossem muçulmanos.

Depois da morte de vários malês, a revolta teve seu fim, levando milhares de africanos e afro.brasileiros a fazerem seu passaporte e cruzar a Kalunga de volta à África.

No caso dos ancestrais de Eric, estes passaram pela Nigéria durante o caminho de volta para Gana, onde aprimoraram o yorubá que haviam aprendido no Brasil, levando influências brasileiras e africanas para seus rituais espirituais, principalmente os cultos de seus ancestrais.

Lá na África cada Orixá é celebrado e cultuado em uma região específica, por exemplo:

Xangô é cultuado na região de Òyó (um Império da África Ocidental, situado onde hoje é o sudoeste da Nigéria e o sudeste do Benin).

Oxun, a Rainha do Ijexá, é cultuada em Osogbó, na Nigéria e em todo percurso do rio que leva seu nome.

Yemanja, deusa do mar é cultuada ao longo do rio que também leva seu nome, em Abeokutá.

Pelos caminhos da diáspora africana, a Bahia foi um dos grandes caldeirões de mistura entre Orixás de distintas partes da África. Daí nasceram os XIRÊS – festas em que se invoca o axé de vários orixás (sendo que a ordem do xirê vai variar conforme a procedência e costumes da casa).
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Também foram os Orixás que trouxeram a Ialorixá Adeife Poole Omotade de Oxun, sacerdotisa do IFÁ até Salvador. Pelos caminhos da ancestralidade, essa mulher militante com uma longa trajetória no ativismo político voltado à questão étnico-identitária e de gênero vai semeando sementes de fortalecimento e resistência, em suas falas de volta às práticas quilombolas de escambo, cuidado da terra, espiritualidade e saúde popular.

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